Depois do
discurso de Bush The New York Times,
26 de março de 2006 Empresários conhecidos anunciam
investimentos na produção de etanol;
preferência é por obter o produto de celulose
O The New York
Times publicou, no dia 26 de março, a
reportagem "On the Ethanol Bandwagon, Big
Names and Big Risks" (No bonde do etanol,
grandes nomes e grandes riscos), assinada por Norm
Alster. O jornal destaca a entrada de
empresários e executivos de importantes companhias
— os "grandes nomes" do título da matéria — no
ainda arriscado negócio do etanol nos Estados
Unidos. Vinod Khosla, um dos fundadores da Sun
Microsystems e sócio da firma de capital de risco
Kleiner Perkins Caufield & Byers; Richard
Branson, presidente do Grupo Virgin; e Bill Gates,
o dono da Microsoft, são mencionados no texto
pelos investimentos que fazem, ou pretendem fazer,
na produção de etanol. O etanol derivado do milho
representa 3% do mercado norte-americano de
combustíveis para automóveis. Mas, de acordo com o
The New York Times, é o tipo celulósico,
produzido a partir de matérias-primas que, ao
contrário do milho, não servem como alimento —
capim, resíduos vegetais, lascas de madeira —, o
responsável pela "atual excitação" em torno do
etanol.
Vinod Khosla é um dos
entusiasmados com o etanol celulósico —
combustível que, em sua opinião, eventualmente
terá menor custo de produção do que a gasolina e o
etanol derivado do milho. De olho no futuro, ele
diz já ter investido, segundo a reportagem,
"dezenas de milhões de dólares" em empresas
dedicadas a desenvolver métodos para produzir
etanol de outras fontes vegetais além do milho.
"Estou convencido de que podemos substituir a
maior parte do petróleo usado em carros e
caminhões leves por etanol dentro de 25 anos",
declarou ao jornal. O The New York Times
informa que, atualmente, a maioria dos carros
norte-americanos já pode circular com até 10% de
etanol misturado à gasolina. Há também os cinco
milhões de veículos "flex-fuel", aptos a
rodar com o E85, combustível composto por 85% de
etanol e 15% de gasolina.
Embora não tenha falado
diretamente ao jornal, Richard Branson também
parece estar bastante empolgado com o etanol. Will
Whitehorn, um dos diretores do Grupo Virgin,
informou que Branson planeja investir de US$ 300
milhões a US$ 400 milhões na produção do
combustível, usando milho e outras fontes.
Whitehorn revelou ainda que a empresa pretende
anunciar em breve o local onde instalará sua
primeira unidade de produção de etanol —
provavelmente será no Leste dos Estados Unidos.
Uma segunda unidade deverá ser construída em
seguida no Oeste do país.
A matéria conta que Bill Gates
fará sua aposta no mercado de etanol por meio de
sua firma privada de investimento, a Cascade
Investment. A firma já declarou sua intenção de
gastar US$ 84 milhões na compra de títulos
lançados recentemente pela Pacific Ethanol,
segundo informação divulgada pelo diretor
financeiro desta empresa, William Langley. De
capital aberto e com sede na Califórnia, a
Pacific, relata o jornal, espera liderar a
produção e distribuição de etanol nos Estados do
Oeste norte-americano.
Para os investidores "cujos
bolsos não são tão fundos", o texto faz uma
advertência: é possível entrar no mercado do
etanol, mas o risco envolvido é grande. Langley
reforça essa posição ao dizer que poucas
companhias de capital aberto focadas em etanol dão
lucro. Ele também revelou que a própria Pacific
Ethanol ainda não teve um trimestre lucrativo — e
que não terá pelo menos até o início da produção
de sua primeira planta, previsto para o quarto
trimestre deste ano. Além disso, acrescenta a
matéria, muitas das empresas de etanol são
particulares e não têm ações disponíveis para
investidores no mercado.
Outro problema
apontado pela reportagem é a pequena quantidade de
fundos mútuos voltados para empresas de energia
alternativa. Wenhua Zhang, analista de tecnologia
da T. Rowe Price, declarou com firmeza que a
companhia para a qual trabalha não vai abrir um
fundo nessa área. Segundo ele, a decisão se baseia
no mesmo motivo que fez a Price não começar um
fundo de Internet em 2000: "Um fundo dedicado a um
setor muito restrito com um único foco tipicamente
tem risco muito mais alto", explicou.
O The New York Times cita
dois fundos mútuos que investem em algumas
companhias de etanol: o New Alternatives, detentor
de ações das espanholas Abengoa e Acciona Energía,
e o PowerShares WilderHill Clean Energy Portfólio.
Este último se baseia em uma lista com 40
companhias de energia alternativa, das quais duas
estão ligadas ao etanol — a Pacific Ethanol e a
MGP Ingredients, localizada no Estado do Kansas.
Robert Wilder, o criador da lista, disse ao jornal
que espera adicionar a ela outras companhias de
etanol.
Entre as empresas de capital
aberto com operações ligadas ao etanol, o texto
destaca as dinamarquesas Novozymes e Danisco e a
norte-americana Diversa, de San Diego — as três,
conta, disseram ter feito "importantes progressos
na redução do custo das enzimas necessárias para
produzir etanol a partir de celulose". Archer
Daniels Midland e Monsanto são lembradas como
"companhias maiores e mais diversificadas" que têm
operações com etanol entre os seus vários
negócios.
O exemplo brasileiro não ficou de
fora da reportagem: o professor Daniel Kammen, do
grupo de energia e recursos da Universidade da
Califórnia em Berkeley, ressaltou que o Brasil
comprovou a viabilidade de se fazer etanol
competitivo a partir do açúcar. Ele calcula o
custo de produção desse combustível, incluindo o
valor das matérias-primas e o processamento, entre
US$ 6 e US$ 7 por gigajoule ("uma unidade de
energia", na explicação do jornal), contra US$ 14
por gigajoule para a gasolina. "No Brasil,
aproximadamente 70% dos novos veículos são
equipados para usar etanol, e o país foi capaz de
restringir sua dependência do petróleo estrangeiro
e transformar o etanol em uma crescente indústria
de exportação", completa o jornal.
Apesar do êxito brasileiro, o
The New York Times diz que o etanol
celulósico apresenta algumas vantagens por não
derivar de plantas que também servem como
alimento. O cultivo das matérias-primas que o
originam não é caro, o que "significaria economia
em mão-de-obra, pesticidas, fertilizantes e
irrigação". Na opinião de Kammen, o etanol
celulósico é superior ao feito de milho no que diz
respeito à redução das emissões de gases
causadores do efeito estufa. Ele acredita que o
etanol ocupará uma fatia de 25% a 30% do consumo
de gasolina dentro de dez anos.
Mas, para que isso aconteça, a
reportagem aponta duas necessidades: a fabricação
de mais automóveis flex-fuel — "o custo de
adição dessa capacidade em carros novos tem sido
estimado em aproximadamente US$ 100" — e uma maior
disponibilidade de etanol nos postos. Vinod
Khosla, acrescenta o texto, "tem feito
lobby em Washington pela ajuda do governo
em ambas as áreas". O empresário lembra que o
etanol é uma área em que os "investidores têm de
ser pacientes e se estabelecer lentamente". Mas
ele faz apostas agressivas, e as justifica com
base no retorno que poderá obter. O sucesso do
etanol significaria, na avaliação dele, um maior
gasto de energia nas áreas rurais dos Estados
Unidos. (R.B.)
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